Esperar alguns meses após vencimento de dívidas é ideal para conseguir condições melhores

 

Mais de 60 milhões de brasileiros estão endividados. Uma pesquisa do Serasa Experian, feita no primeiro semestre de 2019, registrou que quase 63 milhões de consumidores estão com o nome sujo, o que equivale a mais de 40% da população com mais de 18 anos. E o percentual de famílias com dívidas, que não estão necessariamente em atraso, chegou a 64,8% no mês de agosto.

Embora muitos estejam devendo, poucos sabem como lidar com as dívidas. De acordo com o especialista em consultoria financeira Emanuel Gonçalves da Silva, os consumidores viram “reféns dos credores” e acabam negociando em situações desvantajosas, muitas vezes com vergonha de cobranças ou sob pressões abusivas.

Emanuel, que é autor do livro Como Negociar Dívidas afirma que, para negociar, uma das primeiras coisas que o devedor deve fazer é ganhar tempo. “Um dos dez mandamentos do devedor que consta em meu livro, é o seguinte: se a situação está pra lá de preta, dê tempo ao tempo, é o único remédio”, explica. Isso porque muitos bancos e credores só começam a ceder e conceder descontos e parcelamentos possíveis de serem pagos após seis meses de vencimento das dívidas.

Para ajudar consumidores e compartilhar dicas sobre como proceder em caso de endividamento, Emanuel Gonçalves também fundou o blog SOS Dívidas. Lá, explica que seu objetivo não é incentivar que as pessoas não paguem os seus débitos, e sim mostrá-las o caminho para evitar uma desorganização financeira capaz de prejudicá-las durante anos. “Entendemos que todos consumidores têm a obrigação de pagar seus débitos, mas também têm o direito de procurar se proteger contra a perversidade aplicada pelo sistema financeiro nacional, que vem levando pessoas e empresas a falência total”, afirma Emanuel.

Conversamos com o consultor sobre alguns pontos essenciais na hora de negociar dívidas. Confira abaixo:

– Qual o primeiro passo para quem está muito endividado e deseja sair do vermelho?

Quem está muito endividado tem que parar tudo, rever e reformular seu orçamento pessoal e familiar com prioridade. Quem está nesta situação precisa de três coisas: tempo para recompor sua capacidade de pagamento, redução nas dívidas para conseguir pagá-las, e prazo quando chegar o momento para estas possibilidades.

– O que você nunca deve fazer ao tentar negociar uma dívida?

Correr desesperadamente para pagar com vencimentos recentes. Infelizmente, os credores somente concedem descontos atrativos quando as dívidas superam a partir de uns seis meses de vencidas.

– De acordo com um levantamento do Serasa, nos primeiros 5 meses de 2019, 27% dos brasileiros que já tinham quitado suas dívidas voltaram a dever. Como o consumidor pode evitar a reincidência nas dívidas?

O problema é que falta conscientização orçamentária, falta inteligência financeira na maioria de nossa população. Não recebemos educação para fazer contas, planejamento para gastar o que realmente podemos de acordo com nossa receita, e isso leva esse número de consumidores a criar dívidas para pagar dívidas. A educação financeira está ausente de nossas escolas em todos os estágios de nossa formação e esta é a principal causa que leva o cidadão a se endividar tão facilmente.

– Quando se trata de empresas, muitos empreendedores têm receio para fazer empréstimo e renegociar as dívidas. Qual a melhor hora de procurar ajuda para lidar com o endividamento?

As empresas precisam ter cuidado com o relacionamento com os bancos, onde os gerentes e funcionários são treinados para fazer receita em cima da conta corrente dos clientes, principalmente empresas.

Limites de cheque especial e cartões de créditos, empréstimos para capital de giro, e outros “benefícios”, transformam a empresa em um refém do banco. Quanto mais negócios realizados, mais dependente a empresa fica, com consequências extremamente prejudiciais no futuro. O ideal é que uma empresa viva de suas próprias pernas. Se o negócio é viável, é preciso estabelecer um orçamento com base nos lucros reais, jamais em cima de captação destes recursos.

Basta observar que todas as empresas endividadas têm os bancos como os maiores credores e muitas, infelizmente, acabam falindo.

 

Fonte: Administradores / Imagem: Reprodução

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